sexta-feira, 22 de junho de 2012

Uma experiência bem familiar.



Em meio as hostilidades com as árvores, que infelizmente presenciamos com lamentável frequência nos principais centros urbanos do país, alguns gestos pouco comuns se destacam, apesar de passarem quase desapercebidos aos olhos da maioria população.
























Dani e sua família, sorridentes
e orgulhosos por plantar mais
uma árvore na margem  do Rio
Capibaribe,  em pleno centro
do Recife.


Gestos simples como esse, da família Azevedo, mostrado aqui em fotos, felizes, plantando uma Castanhola(Terminalia catappa indica) numa das avenidas mais tradicionais e movimentadas do centro do Recife. Gesto que não é novidade para o seu Neno e, se depender dele, ainda vai se repetir muitas e muitas vezes. Ou melhor, se depender dele e da sua família, pois a semente do amor e respeito à natureza foi plantada desde cedo e já germinou entre os filhos.

























As fases do plantio, 
em sentido horário:
Ao centro, seu Neno 
entrevista o neto Arthur, 
perguntando sobre 
a emoção de plantar 
a árvore (que foi plantada
em homenagem ao jovem, 
que aniversariou no dia 
anterior).


Conheci a Dani Azevedo quando ela me enviou um e-mail, tempos atrás, transtornada porque uma faculdade particular estava cortando algumas árvores na sua vizinhança (no bairro do Derby). Mais recentemente voltei a encontrá-la (sempre virtualmente) em um grupo que discute assuntos relacionados à questões urbanas diversas, como mobilidade e especulação imobiliária, dentre outros, no Facebook (Grupo Direitos Urbanos). E lá estava ela, novamente a reclamar da mesma faculdade (Maurício de Nassau) que insistia em cortar mais e mais árvores e convocando voluntários para acionar os órgãos competentes para denunciar esse abuso para com o nosso patrimônio ambiental.


Outro dia ela postou essas fotos do plantio em família no seu álbum no Facebook e eu achei tão bacana, que pedi permissão pra fazer uma postagem aqui no meu blog. Aproveitei e pedi também pra ela me falar um pouco dessa experiência. Foi aí que eu fiquei sabendo que isso não era novidade na vida dessa defensora das árvores. Vez por outra seu pai planta uma árvore aqui e alí na rua da Aurora, onde mora, basta ter um buraco vazio de terra na calçada! E desde criança ela está acostumada com essa vivência por onde morou. De fruteiras a um romântico Flamboyant que o  seu pai, plantou para a esposa, foram muitas as árvores que passaram pela sua infância de pé descalço no chão, seja na areia do quintal ou na lama da "manguetown", quando ia buscar a bola das brincadeiras. Hábitos que estão desaparecendo entre os jovens das gerações atuais, cada vez mais empoleirados em prédios altos e cercados de concreto por todos os lados.


Ainda bem que alguns jovens tem o exemplo de um pai ou de um avô querido, como o "seu" Neno, pra mostrar que as árvores não estão apenas nas paisagens de joguinhos de computador e smartphones, e que elas podem ser o "ar condicionado" das nossas ruas. 



Que a lição seja passada por muitas gerações!





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quinta-feira, 21 de junho de 2012

Parques de pedra e cal


 
Texto de Isabelle Meunier*


As atuais iniciativas de implantação de parques urbanos em Recife permitem antecipar algumas preocupações quanto às funções ambientais que podem desempenhar. A começar pela extensão dessas áreas que, na verdade, assemelham-se mais a praças ou parques de vizinhança, devido aos seus tamanhos reduzidos e limitadas possibilidades de propiciar atividades e vivências em contato com a natureza.


Os projetos de parques recifenses quase sempre contemplam esplanadas pavimentadas, equipamentos de apoio, quadras, quiosques, pistas, estacionamentos, acessos revestidos, brinquedos, gramados e tímidos canteiros. Diante disso, parece evidente que falta para o os mesmos se constituírem em parques de verdade: nas áreas (verdes?) existentes e nas que se anunciam para a cidade, onde estão as árvores? Qual o lugar reservado a elas, nesses ambientes que deveriam ser o seu refúgio preferencial, tão importante para a qualidade de vida urbana?




















Parque Dona Lindu, o "parquinho feio" é um ótimo exemplo de parques de pedra e cal. Construído na praia de Boa Viagem, no local onde os moradores queriam um parque de verdade, nos moldes do Parque da Jaqueira - ver aqui  - a prefeitura encomendou essa árida "praça temática" ao renomado arquiteto Oscar Nyemeyer. Há mais árvores nas ruas à sua volta do que no suposto parque propriamente dito (nota do blogueiro).  


Onde mais, em uma cidade como Recife, se espera que grandes árvores ofereçam sombra, sensação de tranquilidade, abrigo e alimento à fauna urbana, oportunidades de contemplação do belo e interação com o ambiente natural? Onde mais se poderia observar a riqueza de espécies, outrora exuberante nas matas e restingas que foram destruídas para dar lugar ao crescimento da cidade? Nos antigos quintais, as árvores são rechaçadas para dar lugar a novas construções, ampliações e impermeabilização do solo; nas calçadas, são estropiadas por podas e repelidas por postes, entradas de garagens, estacionamentos e, não raro, pelo temor das pessoas de que aconteçam acidentes (se esse mesmo temor se dirigisse aos veículos automotores, não haveria um só carro circulando nas ruas, dada a probabilidade muito maior de causar acidentes fatais...).


Praças e parques seriam o local ideal para muitas e grandes árvores, árvores da Mata Atlântica, frondosas e exuberantes. Em nada parecidas com os envergonhados canteirinhos de arbustos ornamentais exóticos, de vida curta e cara manutenção. Muito mais belas do que estranhas concepções arquitetônicas com a quais a sociedade é obrigada a conviver, sem direito de opinar. Cheias de significados, as nossas espécies nativas representam a adaptação do meio biológico aos fatores ambientais, traduzindo a história da evolução. Trazem referências culturais, diversidade genética, oportunidade de educação ambiental e de formação para a cidadania.


Diante disso, por que optar pelos parques de pedra e cal? Por que nossos arquitetos e administradores não se mostram sensibilizados e capazes de compreender a beleza da natureza, que assume formas, cores e texturas muito mais ricas, versáteis e harmoniosas do que a limitada criação humana? Por que não aproveitam essa riqueza de possibilidades em seus projetos, por que temem incorporar a pujança da vegetação nativa nas suas pranchetas?


Não tenho essa resposta - sei apenas que estamos construindo uma cidade cada vez mais quente, adensada, que venera o automóvel ao mesmo tempo em que lamenta os engarrafamentos e entende lazer como uma tarde no shopping. Nesse cenário, é possível que parques de pedra e cal pareçam satisfazer as necessidades dos cidadãos. Mas, como será futuro, quando não houver mais um só lugar para as árvores das quais a cidade precisa para se humanizar?




*Isabelle Meunier é engenheira florestal
e profra. da UFRPE (e uma fervorosa defensora
das nossas árvores).







quarta-feira, 20 de junho de 2012

A matemática ambientalista da Rio+20






















[ Primeiramente peço desculpas por 
essa edição "tosca", do blogspot, 
mas infelizmente não consigo controlar 
o resultado final do layout ]


A RIO + 20 é o assunto da semana. Pelo menos para aqueles que se importam com o meio ambiente.  É a conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) dando continuidade a quase esquecida ECO 92, realizada pela mesma organização e também sediada no Rio de Janeiro há vinte anos atrás (é daí que vem o + 20) e considerada, na época, um marco na luta pela consciência ambiental mundial. Positivo.

A despeito da ampla divulgação que se tem feito em torno do evento, a RIO+20 não é a salvação do planeta, como as vezes a mídia pode dar a entender. Poucos avanços efetivos devem sair de lá. Para os ambientalistas, o encontro não passa de um teatro onde os protagonistas se esforçam para interpretar os papéis de defensores do planeta, mas quando estão fora do palco esquecem com facilidade o texto, e continuam dando as costas para os mesmos problemas de mais de vinte anos atrás. Negativo.

O desinteresse dos Estados Unidos pelo assunto não é nenhuma novidade. O atual presidente Barack Obama, de cujo governo esperava-se uma evolução no sentido de uma maior participação no desenvolvimento sustentável do planeta, é dado como uma das principais ausências da RIO+20. Outra que levou falta foi a toda poderosa alemã, Angela Merkel. Negativo.

Também fala-se que os governos mundiais estariam diminuindo os recursos que são repassados para a manutenção da ONU, e que as grandes corporações (aquelas que regem o capital do planeta) estariam aumentando a sua participação no financiamento à ONU e consequentemente, tendo voz mais ativa na definição dos textos dos documentos oficiais da conferência. Negativo.

Paralelamente ao encontro oficial que reúne os governantes, acontece a "Cúpula dos Povos", que agrega a sociedade civil.  O evento, organizado por uma rede de 36 ONGs (organizações não governamentais), tem como principal objetivo pressionar a ONU a adotar medidas que possam, finalmente, dar início ao crescimento sustentável do planeta. Positivo.

Vamos as contas:
Mais com menos da menos; menos com menos dá mais; mais com menos dá menos, que finalmente, com mais dá... menos!   :)



Agora, veja o que pensam alguns participantes da "Cúpula dos Povos", sobre a RIO+20:


"Quando eles falam em economia verde e a gente vê no documento que está escrito que é preciso utilizar os instrumentos de mercado para enfrentar a crise ambiental, que são as grandes empresas que devem tomar a frente desse processo, que é necessário aumentar o livre comércio, e que a confiança é a de que o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a organização Mundial do Comércio ajudem nesse processo, fica claro quais são as motivações em questão. É óbvio que eles não estão atendendo às nossas necessidades, mas aos interesses  das multinacionais. A quem interessa aumentar o livre comércio? A quem interessa que o milho dos Estados Unidos chegue mais barato ao México do que o milho mexicano? Destrói quem? Destrói a agricultura local e isso não interessa à humanidade".

"Há um descompasso entre a consciência da humanidade e as decisões dos governos.
Vinte anos depois, o cenário é muito mais grave. Nós estamos caminhando para um
futuro pior, em função do que não foi feito. Ou mudamos agora, ou não haverá Rio+40".

Ivo Lesbaupin
(Sociólogo, da Direção nacional da ABONG, Associação Brasileira das ONGs)




"ONGs nordestinas estão aqui no Rio para dizer que somos vítimas de governantes
que insistem em colocar equipamentos movidos à energia nuclear em nossas regiões".

"Se nem o governo brasileiro entende que a energia nuclear é uma energia perigosa,
que só causa problemas, principalmente com a contaminação geral do meio ambiente,
como os líderes munidas vão ouvir o que dizemos?".

Renato Cunha
(Grupo Ambientalista da Bahia - GAMBA)




"Os poderosos querem usar uma lógica de mercado para negociar a natureza. É preciso
valorizar as diferentes formas de viver e produzir, reconhecendo a contribuição que grupos indígenas, comunidades tradicionais, agroextrativistas e agricultores familiares dão a conservação dos ecossistemas".

"O espaço oficial parece programado para consolidar acordos que só fizeram mal ao mundo. Belo Monte é um exemplo de como os governos tentam corromper a sociedade em volta, no caso os indígenas, para alcançar seus objetivos".

Maiana Maia
(Secretária da Rede Brasileira de Justiça Ambiental e pesquisadora do Núcleo Tramas da UFCE)


Depoimentos extraídos do Jornal do Commercio de Pernambuco, edição de domingo, 17 de junho de 2012.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Recife contra as arvores: a chaga continua





















Menos de uma semana depois de presenciar o oitizeiro mutilado pela prefeitura (ver link) na Av. Visconde de Suassuna, mais árvores são destruídas naquelas imediações  do centro da cidade. No último sábado à tarde, presenciei e fotografei essas imagens, na Rua Bispo Cardoso Ayres, na calçada do imóvel que faz esquina com a Rua do Príncipe. Segundo uma moradora e o porteiro de um prédio próximo ao local, teria sido mais uma vez, trabalho da prefeitura.



















Inicialmente me deparei com uma poda bizarra (fotos acima) de uma "Senna siamea", árvore conhecida como acácia e muito comumente usada em arborização de cidades. É uma espécie que tem como características o crescimento muito rápido e flores amarelas que florescem durante o ano inteiro.

































Logo em seguida, bem próximas e na mesma calcada da Igreja Evangélica Pernambucana,
mais dois exemplares da mesma espécie, desta vez, completamente cortadas. Três arvores ainda jovens, em estado de desenvolvimento, com aparência saudável e já proporcionando sombra ao local, num trecho da rua bastante desprovido de arborização.
Um detalhe que chamou atenção foi que, acima das duas árvores decepadas não existe fiação elétrica, o permitiria que ambas crescecem sem necessidade de podas rigorosas, que dirá, erradicação completa.

























Liguei para a Brigada Ambiental  [ 3355 4602 ] no sábado e solicitei que eles fizessem uma vistoria no local para saber se os cortes tinham mesmo sido feitos pela prefeitura, como declararam alguns  moradores e se havia autorização. A pessoa que atendeu perguntou se os cortes tinham sido feitos com motossera,  o que daria uma pista de o trabalho ter realmente sido feito pelo órgão municipal responsável por esse setor. Ficaram de fazer uma visita no domingo pela manhã, mas pelas fotos não parece haver dúvidas de que foi usada tal ferramenta.
Liguei novamente na segunda pela manhã, por volta do meio-dia. O que sobrou das árvores ainda estava lá na calçada, quase dois dias depois. Um outro funcionário me garantiu que enviariam uma equipe em seguida.






















Pelas fotos parece não haver dúvidas 
sobre o uso da motossera, a fermenta mais usada 
pelos funcionários da prefeitura no lidar com
as nossas árvores.



























Jogados ao chão da calçada, galhos e folhas demonstram que, além de não ter o devido cuidado com as nossas árvores o pessoal da prefeitura, ou seja lá quem fez isso, não tem o menor respeito pelos moradores, trabalhadores e cidadãos em geral que por alí transitam. 

















































Até perto do meio dia da quarta-feira,
ou seja, quatro dias depois dos cortes, 
os galhos permaneciam na calcada.



Por fim, a pergunta que fica: teria sido o corte encomendado pela igreja? Sim, porque tem sido comum ultimamente, a prefeitura autorizar e fazer o corte de árvores a pedido de empresas, como aconteceu  com o novo hospital da UNIMED e um com escritório de advocacia, ambos já comentados aqui no blog (veja aqui e aqui). No caso do hospital, trocaram as três antigas e frondosas castanholas por algumas árvores de pequeno porte (patas de vaca), de efeito meramente paisagístico, comparadas com as anteriores. Já no caso do escritório de  advocacia, nem sombra de uma nova árvore por lá.




























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sábado, 16 de junho de 2012

Se fosse uma arvore...

















Me deparei com essa imagem no facebook, achei genial a ideia
e fui procurar mais informações. Pensei que pudesse
ser uma montagem, uma possível peça fictícia, ou "fantasma",
para usar o jargão dos publicitários. Mas eu acabei a encontrando
num site que mostra várias campanhas criativas sobre o tema "meio
ambiente" e lá dizia que o seguinte:
A campanha foi criada em ocasião dos congressos mundiais
sobre Biodiversidade e Biossegurança, realizados pela ONU 
em 2006, em Curitiba. A peça foi estrategicamente montada 
na saída do aeroporto Afonso Pena, de modo a surpreender
os participantes do congresso e quem mais passasse pelo local.
















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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Como solicitar o tombamento de árvores no Recife







































Passo-a-passo para solicitar o tombamento de uma árvore. 
Reprodução de infográfico publicado em matéria do Diário de Pernambuco  em 14-06-12 ("Árvores tombadas pedem cuidados") .



Segundo matéria publicada no Diário de Pernambuco de ontem, o Recife possui 54 árvores protegidas por lei.  Os procedimentos para solicitação do tombamento de uma (ou mais) árvores, que pode ser feito por qualquer pessoa, estão no infográfico acima. 

Ainda segundo a mesma matéria, das 54 árvores que constam no livro de tombo da prefeitura e estão protegidas de corte ou depredações, 11 delas estão em no mesmo endereço, a Rua Astronauta Neil Armstrong.



















Matéria publicada no DP, de autoria de Anamaria Nascimento. 
Clique aqui para fazer o download da matéria digitalizada 
(jpg com resolucão suficiente para leitura). Para ler a versão 
on line, clique aqui.



A parte chata dessa história, é que não existe equipe diferenciada para manutenção,
muito menos verba específica para tal. As árvores que precisam de cuidados especiais como tratamento fitossanitário, placas de identificação e avaliações de técnicos antes de uma possível intervenção (como podas, por exemplo) são tratadas pela mesma equipe que promove uma série de atrocidades as quais infelizmente,  já estamos acostumados a ver pelas ruas da nossa cidade.


Eu acrescentaria inclusive, que a verba deveria ser aumentada para melhorar o cuidado com toda a arborização da cidade, não apenas com as que estão protegidas por tombamento. Contratação de pessoal especializado ou realização de capacitações para melhorar o conhecimento dos que já fazem parte da equipe de manutenção também seriam iniciativas muito bem vindas por parte do poder público.


Clique aqui e conheça a lei municipal sancionada em 1988 que dispõe as condições para tombamento de árvores em nossa cidade. Clique aqui e leia mais sobre o assunto na página da Diretoria de Meio Ambiente da Secretaria de Planejamento.





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