Terminalia
catappa.
Foto retirada
do site.
Texto de Isabelle Meunier*.
Versão integral do texto publicado
na revista "Mon Quartier", Ano 2 nº20.
* A autora é engenheira florestal
e profª da UFRPE.
Passado o Carnaval, seria extemporânea uma crônica tratando de frevos antigos ou saudando a sombrinha, símbolo do passo bem marcado do frevo... Esse artigo também não trata de moda, mesmo que se deseje comentar a crescente frequência das sombrinhas nas ruas de Recife e não só delas: cada vez mais há turbantes, echarpes e chapéus criativos desfilando nas ruas de Recife, muitas vezes improvisados ou substituídos por bolsas levadas nas cabeças, cadernos portados sobre as testas e outras tendências de verão.
Em um rápido percurso entre a Torre e o Espinheiro, na tórrida hora do almoço, observei recentemente a diversidade de estratégias que nosso povo tem adotado para poder circular a pé na cidade. Uma senhora, na carona de uma bicicleta, envolveu na cabeça um surrado casaquinho, com certo efeito de véu mulçumano. Um casal de idosos compartilhava uma sobrinha enquanto uma jovem senhora desfilava seu chapéu de praia. Entre inúmeros outros conterrâneos que não podem ou não querem gozar do frescor do ar condicionado do carro, alimentado pela queima de combustível fóssil.
Nossa tropical Recife sempre foi calorosa... e quente! Mas nunca tanto assim, dizem os mais velhos. Pelo menos quanto ao sol abrasante, tem-se a certeza: ele nunca nos esquentou com tanto ímpeto. A verdade é que, se o velho Sol continua o mesmo e Recife não mudou sua latitude, muita coisa piorou no ambiente da cidade. Árvores se foram dos quintais, das praças, das calçadas. Caminhar nas ruas de Recife é desafiar muito mais do que automóveis estacionados, buracos, portões eletrônicos que avançam sobre as calçadas, postes e orelhões desalinhados, desníveis, correntes e outros monstrengos: é se submeter ao calor infernal, potencializado pelas emissões dos veículos, por paredões sufocantes e pelas grandes extensões impermeabilizadas. Tudo isso sem a proteção generosa das copas das árvores, a cada dia reduzidas por podas absurdas, pela remoção desnecessária ou mesmo pela queda das árvores, resultado da tradicional falta de cuidados básicos e de monitoramento.
O sol que cria, purifica e energiza pode se tornar um grande incômodo e um perigo à saúde dos habitantes de uma cidade que nega espaço às árvores. Esse tormento é sentido todos os dias por quem caminha nas ruas e criativamente buscam formas de se proteger e, observando essa tendência, podemos prever que indumentárias de beduínos dos desertos podem ser bem aceitas no próximo verão. Mas o que precisamos, mesmo, é de árvores. Árvores em praças de verdade, em parques que precisam ser criados, em calçadas - largas o suficiente para pessoas e árvores - e em jardins da casas e prédios. Precisamos de árvores para suportar a cidade que esquenta, para permitir que as pessoas andem com conforto, desafogando o trânsito que enerva a todos e simplesmente não nos leva a lugar algum. Precisamos de árvores para humanizar a cidade e devolvê-la aos cidadãos.
A árvore Terminalia catappa, que ilustra esse post também é conhecida popularmente
como CHAPÉU DE SOL, Castanhola, Coração de Negro.
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2 comentários:
Que lindo!
Vc sabia que esta árvore dá uma linda essencia floral?
Que estrondo que ela é. Não conhecia a cara dela...
Eu achei muito legal muito bacana foi de +.
Marco Antônio
Sofia
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