segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A esquina lá perto de casa.







Arvores? Só na placa mesmo.








Texto escrito e enviado por Carolina Cani.

O caminho para o curso de inglês era curto, saía de casa, andava até a esquina da rua do Futuro com a Malaquias, seguia até o sinal da Rosa e Silva. Atravessava a rua, andava mais meia quadra e já estava no curso.
Na esquina da Malaquias com a rua do Futuro tinha uma casa, dessas bem antigas e grandes, diziam ser assombrada. Ao redor da casa sempre tinha uns cachorros moribundos e diziam morar um velho la dentro que cuidava deles, lenda urbana.

A calçada era tão quebrada que a maioria já havia sido tomada pela terra e as raízes das imensas árvores que ocupavam o terreno e a calçada. Tinha que andar atenta para não tropeçar nas raízes dos pés de jambo, mangueiras e outras espécies que não lembro.

Lembro, no entanto, de uma época do ano que a calçada ficava cor de rosa, quando caía aquelas flores despedaçadas do pé de jambo, faz tempo que não vejo isso. Por mais que eu tivesse medo da casa mal assombrada, era agradável andar por aquela calçada as duas da tarde.

Não me lembro bem ao certo como aconteceu, mas quando me dei conta, a casa mal assombrada já não estava mais lá. Os cachorros também sumiram aos poucos e o sol pareceu ter ficado mais forte naquela esquina. A Primeira coisa que fizeram depois de colocar tudo abaixo foi construir um muro bem alto. Pintaram o muro com anúncios de quantos quartos, banheiros e outras coisas legais iria ter no prédio.

Depois de colocar vigas e despejar vários caminhões de cimento o prédio novo estava quase pronto, já já eu teria novos vizinhos. Aí então que fizeram uma coisa que me deu vontade de fazer aquelas greves de fome, protestos, faixas pintadas, panelaço e muita algazarra. No entanto não fiz nada. Eles continuaram a cavar um imenso buraco ao redor da maior árvore da calçada.

O buraco era tão grande, que já entrava pela rua, a tomar a faixa da esquerda da malaquias. Acho que até eles se assustaram na época, porque quanto mais terra eles tiravam, mais raizes apareciam. A essa altura já haviam cortado fora todos os galhos, restava apenas um buraco, uma infinidade de raízes e um tronco imponente impotente.

Passaram-se alguns dias com aquela cratera na rua, pena não ter tirado foto, pois gostaria de saber se a minha memória me engana, se foi apenas eu que fiquei entristecida ao ver aquela cena todo dia na volta para casa. Colocaram uma calçada daquelas de pedrinhas no lugar, umas brancas umas pretas, fazendo desenhos, coisa fina. A guarita do prédio fica bem de frente com o lugar onde era a árvore, nada me convence de não ter sido pura teimosia.

Foi-se a árvore, chegaram os novos vizinhos pouco a pouco. Então cavaram um buraco no asfalto que ia da esquina, até o centro do cruzamento. Era de se esperar, afinal de contas, o xixi e cocô dos novos vizinhos teriam que sair por algum lugar.

Não sei quanto tempo se passou, se foram 5 ou 2 anos. O prédio está lá, os vizinhos também, assim como seus xixis e seus cocôs. Acontece que semana passada abriram outro buraco no cruzamento, bem no meio, super prático. O buraco já estava lá, estavam tentado consertar o serviço mal feito. Mesmo depois de taparem o buraco, o mesmo cede um pouco mais a cada dia e não há carro que passe por lá que não tenha que disviar de um pequeno desnível bem no meio da rua.

Hoje quando passei na rua, ao meio dia, o sol naquela esquina chegou a torrar meus miólos. Na placa com o número do prédio colocaram desenho de árvores, e o nome do edifício, Bosque num sei das quantas. Não tem sombra nem muito menos o aroma de jambo. Lembrei com saudades da casa que assombrava minhas tardes, da calçada cor de rosa e da esquina da avenida Dr Malaquias com a Rua do Futuro que, como tantas outras esquinas, já não reconheço mais.

.

Um comentário:

André Balaio disse...

Caramba, ela falou da esquina onde moro! São mais de vinte anos na esquina da malaquias com a rua do futuro. Morei quando era uma casa durante 16 anos (não a tal assombrada, que ficava de frente para a minha). Há 6 anos moro no edifício the plaza. a tal casa era linda realmente: vermelha, tinha uma piscina vazia na frente e era bem arborizada. Morava lá uma família bem esquisita: um casal de velhos e seus dois filhos: o filho, parecia ser bem doido e a filha era brigada com o irmão e morava isolada numa espécie de torre nos fundos da casa, no trecho da rua do Futuro. Cheguei na tal esquina quando a Malaquias era deserta, com fama de mal assombrada e só existiam os colégios Damas e São Luís e a AABB. O resto veio depois...