Parece que os nossos gestores públicos ainda vão demorar muito para aprender a conciliar desenvolvimento & sustentabilidade.
Quando uma idéia de "desenvolvimento" é posta em prática, é comum vir acompanhada de um rastro de destruição do meio ambiente, quer seja em áreas de matas e florestas - como aconteceu com uma grande área de manguezal e restinga, nativos do litoral de Suape/PE, onde fica o conhecido porto - quer seja de áreas verdes urbanas, como está sendo o caso das obras do "Corredor Leste-Oeste".
Circulou ontem nas redes sociais esta lamentável imagem de várias árvores cortadas numa das maiores (em extensão) avenidas do Recife.
Segundo uma pesquisa de âmbito nacional, feita recentemente para avaliar a qualidade das calçadas brasileiras, esta avenida havia sido considerada uma das mais arborizadas da nossa cidade, tão carente de um bom programa de preservação, manutenção e fiscalização do verde urbano. Infelizmente, não é mais.
Depois de ter desistido de usar um sistema de transporte ambientalmente
mais adequado - o governo optou por usar BRTs (bus rapid transport), que são ônibus mais qualificados, porém, movidos a diesel, como qualquer ônibus, ao invés de optar pelo uso de VRTs (veículo leve sobre trilhos), ao que tudo indica, para favorecer os empresários do setor de transporte coletivo. Quem ganha com isso são as mesmas pessoas de sempre, que ditam as regras de ajustes de preço de passagem e parecem pouco se importar com os trabalhadores e estudantes que usam os coletivos. Quem sai perdendo, são as pessoas e o meio ambiente.
Pra completar, além de trocar o silencio dos trilhos pelo barulho dos motores
e as chaminés poluentes dos coletivos movidos a diesel, ainda acham de
diminuir as poucas áreas verdes da cidade, para a poluição e o mal estar
ficarem completos pra quem tem que andar pelas ruas da cidade.
Ciclovias
O que podia ser motivo de comemoração, acabou se transformando em
preocupação: foi anunciado esta semana, que o projeto dos corredores "Norte-Sul" e "Leste-Oeste", serão acompanhados de ciclovias que ligarão vários pontos da cidade. Mas, ao contrário de um projeto inteligente - que havia sido apresentado recentemente e divulgado na imprensa e aqui mesmo neste blog - que previa a construção de ciclofaixas arborizadas (batizadas de CICLOFRESCAS), para tornar o transito das magrelas mais agradável numa cidade tão quente que vem sendo apelidada de "Hellcife", no projeto que está sendo implantado, podemos prever que as cilclovias sejam apelidadas de "CicloÁRIDAS", ou "corredores do inferno", visto que, além de não haver árvores, estaremos cercados de carros e ônibus por todos os lados, já que a previsão é construir as ciclovias no canteiro central, tanto da Av. Caxangá, quanto da Av. Agamenon Magalhães (corredor norte-sul). Só resta saber quantas árvores serão removidas desta última.
Replantio
Os que defendem esse tipo de intervenção urbana sempre vem com o discurso
do "replantio compensatório", como sendo a salvação para todos os problemas
de arborização. É o "Seu Creisson" do meio ambiente. O termo virou mesmo moda e serve para iludir aqueles que acreditam cegamente nas promessas dos políticos.
Que eu saiba, o replantio das árvores arrancadas irresponsavelmente com autorização do Governo do Estado para a realização de um espetáculo do Cirque de Soleil, há alguns anos atrás ao lado do Espaço Ciência, nunca aconteceu. (clique aqui para saber mais sobre isso) E mesmo que acontecesse, um replantio nunca repõe o que foi destruído. Modifica o habitat que existia para uma fauna que coexiste com aquelas árvores, por exemplo, além da perda do bem estar para nós, seres humanos, que só viria a ser compensado daqui há uns 20 anos, pelo menos. E nesse caso, é pior ainda. Além de não termos a certeza de que vão plantar árvores como compensação pela perda destas, foi anunciado que o "replantio" será feito em outro município da região metropolitana, a cidade de Carpina.O replantio só deveria ser considerado para casos de crime ambiental ou perda de área verde por doenças ou acidentes da natureza.
Aí, você que está lendo esse texto pode pensar: mas isso que está ocorrendo
nessas obras não é um atentado ao meio ambiente? Não é um crime ambiental?
E eu respondo que na minha opinião é sim, um crime ambiental praticado pelos que nos governam, pelos que decidem por nós. O máximo que podemos fazer é decidir o que fazer com eles, nas urnas. Acho que é a única forma de puni-los por esses crimes.
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